Religião Judaica
Kashrut
Hechsherim - Atestado de Kashrut para produtos não comestíveis
Nos últimos anos, vimos nos deparando com um fenômeno cada vez mais difundido pelo mundo: supervisão de cashrut sobre produtos não comestíveis. Velas, sabonetes, sabão em pó, remédios, fôrmas de alumínio, papel para assar e até mesmo lencinhos de papel - todos estes aparecem hoje em dia com certificados de cashrut. Os boletins de cashrut contém listas de produtos não comestíveis, que recebem hechsherim e/ou foram vistoriados, para que possam ser utilizados ou não, durante o ano e em Pessach. Este fenômeno é novo em nossa geração, não sendo conhecido nas gerações passadas. Portanto, temos o dever de esclarecer e pesquisar na halachá o procedimento destas supervisões.
A fonte na Guemará de Pessachim
A primeira fonte que lida com este assunto (cashrut de algo que não seja mais comestível) é a Guemará, em Massechet Pessachim (45). "Nossos sábios estudaram: o pão [de Terumá] embolorado que não serve mais para o homem, mas o cão ainda pode ingerí-lo... pode ser queimado juntamente com o pão [de Terumá], tamê (impuro) em Pessach". (Se o pão de Terumá puro não estivesse estragado, seria proibido queimá-lo juntamente com o pão impuro).
A Guemará é minuciosa ao dizer que, somente quando ainda há um animal, como o cão, que é capaz de comê-lo – o pão é proibido em Pessach e deve ser queimado. Rashi escreve que "enquanto for comestível para um cão, ainda não perdeu a qualidade de alimento." Aprendemos de suas palavras que, quando até mesmo um cão não comeria aquele alimento, este perde as qualidades de "alimento" proibido pela Torá, e é chamado de "passul laachilat kelev".
O Ri"f foi minucioso ao concluir: "Portanto, se não for mais comestível para um cão, [este pão estragado] não precisa ser queimado."
Qual é a lei referente às outras proibições, excluindo o chametz?
O Ra"n (palavra inicial "Tanu Rabanan"), em seu comentário sobre o Ri"f, indaga-se qual é a necessidade de escrever tal lei na Guemará. Afinal, um alimento desses não é mais comestível para o homem, tendo, portanto, o status de "hanoten taam lifgam" (algo que estraga o gosto de outros alimentos, se entrar em contato com eles). Se uma substância destas entrar em contato com outro alimento, é permitido ingerí-lo, em relação a todas as proibições da Torá, e não só em relação ao chametz. A fonte para esta lei é a guemará em Massechet Avodá Zará (67:). Lá, a Guemará aprende que uma nevelá (carne de animal que não foi morto por abate conforme a halachá) só é considerada nevelá quando ainda for comestível. No entanto, se esta já se decompôs, por exemplo – sua proibição fica anulada. (No entanto, é proibida pela lei rabínica quando for visível, ou seja, quando não estiver dentro de uma mistura.) O Ra"n esclarece, afirmando que o chametz, se comparado a todas as outras proibições, tem uma severidade a mais: as outras proibições da Torá referentes aos alimentos deixam de existir quando estes deixam de ser comestíveis para o homem. O chametz, no entanto, tem uma proibição mais rigorosa, que só perde sua validade quando deixar de ser comestível para um animal também. (Vide Maguen Avraham 442, 14.)
Esta lei aparece também em assuntos de pureza e impureza. Na Massechet Taharot (8, 6) aprendemos: "Tudo o que for comestível para o homem é impuro, até que se torne passul laachilat kelev (ou seja, deixe de ser comestível mesmo para um animal)." O Ri"f conclui daqui: "Portanto, se for passul laachilat kelev, deixa de ser considerado alimento e não passa de pó."
Permissão de hanaá e a proibição de "Bal Yeraê" em relação a um alimento que deixa de ser comestível
Na Guemará (Pessachim 21:) está escrito claramente que pode-se ter proveito sem problemas, em Pessach, de chametz passul laachilat kelev. Lá aprendemos que, se alguém queimar seu chametz antes da hora em que este seja proibido, de forma que torne-se passul laachilat kelev, é permitido tirar proveito dele, se for possível. (Vide Tossafot, a partir de "Charachô").
Assim também ficou a lei no Shulchan Aruch (Orach Chayim 442, 2). Aprendemos, portanto, que em Pessach não há nenhum problema haláchico em se usar velas, cândida, sabão em pó e outros que contenham chametz. A proibição "bal yeraê uval yimatsê" (o chametz não pode ser visto ou encontrado durante Pessach) não recai neste caso. Qualquer coisa que não entra na boca pode ser usada em Pessach, desde que seja passul laachilat kelev. Esta lei foi claramente estabelecida no Shulchan Aruch, como veremos mais adiante, sem nenhuma opinião contrária ou mais rigorosa.
Ingerir alimento que deixou de ser comestível
Os Rishonim discutem entre si qual é a lei no caso de alguém que queira comer chametz passul laachilat kelev, ou se este tenha caído dentro de seu alimento, em Pessach.
O Ra"n, sobre o Ri"f (5: No Ri"f, a partir de "Charachô") escreve que não há nenhuma proibição em comer este chametz. Já que não se enquadra mais na categoria de alimento, sua ingestão não é considerada ingestão.
"Quando disseram que é permitido ter proveito, quiseram dizer que até mesmo a ingestão é permitida. Afinal, este deixou de ser considerado pão antes da incidência da proibição de chametz. Já que não se costuma comer pão queimado, foi usada a linguagem de 'é permitido tirar proveito'. Pois mesmo se comê-lo, não será considerado ingestão."
O Ro"sh (Pessachim perek 2 siman 1), no entanto, sustenta que é proibido comer um chametz passul laachilat kelev. Seu argumento é que, se um indivíduo o come, apesar de ser intragável para a maioria dos seres humanos, é porque o considera um alimento, sendo este, portanto, proibido para ele.
"Há quem diga que não somente é permitido tirar proveito, mas também comer, pois este alimento é considerado pó da terra. Mas não acho assim. Pois mesmo que não seja mais considerado alimento pelos seres humanos, para aquela pessoa sim, e portanto é proibido. Assim também escreveu o Rav Habarceloni za"l: 'Disseram que é permitido tirar proveito, mas comer, não.'"
O Shulchan Aruch (442, 9) sustenta que devemos ser rigorosos como o Ro"sh.
Ingestão de chametz passul laachilat kelev que caiu e misturou-se
De acordo com o Ro"sh concluímos que, em princípio, há casos em que têm razão aqueles que deixam de usar produtos pessulim laachilat kelev. Deve-se tomar cuidado com as velas, pois podem pingar em cima da comida. Lavar uma toalha de mesa com sabão em pó também, pois um pouco do sabão pode ficar na toalha e, mais tarde, misturar-se à comida.
Afinal, o Ro"sh decretou que mesmo o chametz passul laachilat kelev é proibido, se determinada pessoa o ingere. Contudo, se examinarmos os Rishonim encontraremos que, pelo menos em relação ao chametz não há necessidade de preocupação. O Shu"t Terumat Hadêshen, par. 129, traz que a lei do Ro"sh refere-se somente ao caso de uma pessoa que come este chametz sozinho, com a intenção de considerá-lo alimento. Mas, se cair um pouco dele dentro de outro alimento, mesmo se a quantidade ultrapassar 1/60 do alimento – enquanto houver mais alimento casher lepessach do que este chametz não comestível, não há proibição nenhuma. Pois todo o argumento do Ro"sh baseia-se no fato de que aquele alimento voltou a ser considerado alimento, já que aquela pessoa teve esta intenção, ao comê-lo sozinho. Mas aqui, quando não se há nenhuma intenção de ingerí-lo, mesmo de acordo com o Ro"sh não há nenhuma proibição. As palavras do Terumat Hadêshen foram trazidas como halachá pelo Remá no Darkê Moshê, assim como pelo Maguen Avraham 442, 15.
Mais um argumento contra esta rigorosidade encontramos no Ba"ch (siman 442). O Ba"ch escreve que a lei do Ro"sh refere-se somente ao caso em que este chametz torne-se comestível ao ser juntado a outros alimentos. Mas quando estiver totalmente estragado e indigno de ser misturado com qualquer alimento, até mesmo de acordo com o Ro"sh não deve ser proibido:
"Não compreendo. Qual é o problema em comer isto? Afinal, será proibido comer pó? Pois D'us disse: 'Não coma chametz' (Devarim 16, 3). Somente o que for considerado pão pela Torá! Mas isso é somente pó?!
Podemos dizer que um pão embolorado... mesmo que as pessoas não o comem sozinho, podem comê-lo depois de misturá-lo com outra coisa que lhe dê sabor agradável... Sendo assim, apesar de o ter comido sozinho, para este indivíduo é considerado alimento e, conseqüentemente, proibido. Não é considerado pó mesmo, pois o pó não se torna comestível nem mesmo misturando-o a outros alimentos... desta forma podemos entender melhor o Ro"sh, cuja opinião seguimos."
A lei do Shulchan Aruch referente às outras proibições, excluindo o chametz.
Yorê Deá siman 103 seíf 1: "Toda substância de gosto estragado não proíbe sua mistura". O Ta"z, seíf catan 1: "Pois quando esta substância está estragada, perde sua importância."
O Nodá Biyhudá traz (Mahadurá Cáma, Yorê Deá 26) que talvez seria o caso de fazer chumrá (rigorosidade) se aquele alimento não for comestível para o homem, mas ainda comestível para o cão. Mas no caso de não ser comestível mesmo para um animal, não há nenhum argumento para proibir sua mistura. Da mesma forma (Yorê Deá, Mahadurá Tanina, resposta 57), permitiu claramente misturar chametz passul laachilat kelev em sua própria comida, sem encontrar argumento algum para proibí-lo.
A lei do Shulchan Aruch sobre chametz
No Ôrach Chayim siman 442 seífim 9, 10: "O chametz que apodreceu antes da hora em que passa a ser proibido e é passul laachilat kelev... é permitido mantê-lo em Pessach. Tinta que foi cozida em cerveja, pode-se escrever com ela em [chol hamoêd] Pessach".
A Mishná Berurá seíf catan 43: "Mas é proibido ingerir este tipo de chametz por lei rabínica até depois de Pessach, e mesmo que não for considerada uma ingestão digna, pois todos a rejeitam, já que este indivíduo quer comê-lo, é proibido, pois passa a ser 'achshevê' (considerado alimento). Mas somente se for 'achshevê'; se, no entanto, este chametz passul laachilat kelev cair dentro de outro alimento, sendo que este último ainda for maioria, não se deve proibir a ingestão de tal alimento, pois este chametz é considerado pó."
A Mishná Berurá também traz esta lei no seíf catan 45, em relação à utilização de tinta chametz (não comestível) em Pessach: "Não é preciso temer caso a pessoa introduza a pena em sua boca, como é costume dos escribas, achando que um chametz passul laachilat kelev é proibido mesmo para se ter proveito. Pois isto acontece somente se for ingerido com intenção, mas se for ingerido sem intenção alguma, não há problema." Assim também sustenta o Caf Hachayim.
Esta lei é trazida em todos os poskim (legisladores), sem nenhuma opinião contrária. Já que o chametz passul laachilat kelev é considerado pó, não há problema nenhum em ingeri-lo sem intenção, assim como não se proíbe de comer pó em Pessach.
Como é sabido, a empresa Tenuvá de Israel muda a tinta com que carimba seus ovos antes de Pessach. Na tinta comum há produtos chametz não comestíveis, e a Tenuvá muda para uma tinta que não tenha nenhuma sombra de chametz. De acordo com as palavras da Mishná Berurá que trouxemos acima, não há nenhuma base haláchica para se temer este tipo de chametz. É lógico que ninguém tem a intenção de considerar aquela tinta como alimento. Esta rigorosidade é totalmente contrária à lei do Shulchan Aruch (442, 10), que trouxe justamente o exemplo da tinta.
Ingestão de alimentos pessulim laachilat kelev que implicam em outras proibições, quando estiverem misturados a outros
alimentos
Em relação às outras proibições que não o chametz, como por exemplo yên nêssech (vinho utilizado para idolatria), encontramos justamente uma opinião mais rigorosa. Os Baalê Hatossafot (Piskê Tossafot, massêchet Avodá Zará, pêrek 2 pessak 61) proíbem o uso de tinta que contenha yên nêssech em sua mistura, mesmo que, dentro desta mistura, o vinho não seja mais comestível. O motivo: às vezes o escriba introduz a pena em sua boca e pode chegar a ingerir parte da substância proibida. "Tinta seca onde se coloca vinho... deve-se fazer chumrá, pois quando ainda está úmida, o escriba introduz a pena em sua boca."
Na resposta do Terumat Hadêshen, já citada (129), ele explica por que as outras proibições foram tomadas com mais rigorosidade do que o a do chametz. Em relação ao chametz, já que o alimento torna-se passul laachilat kelev antes que a proibição da Torá recaia sobre ele, a proibição de chametz não recairá sobre ele novamente. Mas os alimentos cuja proibição já recaía sobre eles mesmo antes de se tornarem pessulim laachilat kelev (como o yên nêssech, nevelot e terefot), sua proibição rabínica não deixa de existir mesmo depois de se tornarem pessulim laachilat kelev. (Vide Igrot Moshê, Ôrach Chayim 5 siman 31, que trata desta diferença.) Esta opinião é, ao que me concerne, a única que serve como base para aqueles que fazem mais chumrá em relação à cashrut de alimentos não comestíveis (exceto o chametz, que de acordo com todas as opiniões é mais leniente neste caso).
Veredicto do Remá e do Shulchan Aruch referentes à severidade do Piskê Tossafot
O Remá trouxe esta opinião (Yorê Deá 134, 13), mas seu veredicto difere desta opinião: "Costuma-se permitir... já que o gosto está estragado. E parece que esta é a lei da tinta: mesmo se contém yên nêssech, seu gosto está estragado e é permitido. Assim me parece." O Remá refere-se ao siman 123, 25. Lá fica provado que a opinião do Shulchan Aruch também é a de que não é preciso ser rigoroso como o Piskê Tossafot acima citado. O autor permite pegar de um gentio uma mistura que contenha yên nêssech, quando está claro que o gosto do vinho esteja estragado.
Como já escrevemos, o Nodá Biyhudá, em sua resposta (Yorê Deá, Mahadurá Tanina, resp. 57), também não se preocupou em ser rigoroso como esta opinião.
Na verdade, a lei dos produtos que estamos analisando é mais leniente ainda do que a lei do Remá e do Nodá Biyhudá. Pois eles tratam de um produto proibido que estragou-se somente no momento em que entrou na mistura, mas que antes ainda podia ser consumido. Neste caso, pode-se levar em consideração o veredicto severo do Piskê Tossafot, pois aqueles produtos já foram proibidos uma vez. Mas em relação a sabonetes, velas, sabão em pó e outros, todos os produtos comestíveis já estavam estragados antes de entrarem em contato com o alimento. É possível que, num caso destes, mesmo o Piskê Tossafot acima citado não acharia necessária a rigorosidade. Este argumento é como o argumento do Ba"ch que trouxemos acima (siman 442), segundo o qual não há nenhuma base para proibir um alimento passul laachilat kelev mesmo em outras misturas.
Portanto, aquele que usa velas que contenham chametz ou outras substâncias proibidas e as velas já são pessulot laachilat kelev: se esta pessoa é diferente e quer realmente comer velas, isso significa que considera aquilo como alimento, sendo portanto proibido. Contudo, se as velas pingarem sobre o seu alimento, não há nenhuma proibição. Pode-se comer aquela comida normalmente, sendo casher lamehadrin.
O mesmo se dá em relação a guardanapos, papel para assar, etc. Se o indivíduo quer comê-los – deve ser rigoroso. Mas se entrar um pouquinho do chametz do papel dentro do bolo casher lepessach que estiver assando, já que não considera aquele papel como alimento, é permitido, e o assado será casher lepessach lamehadrin.
Veredicto do Gaon Rav Moshê Feinstein e do Minchat Yitschak
A mesma coisa foi escrita claramente no Igrot Moshê, Yorê Deá, chelek 2 siman 30. Lá ele permite lechatchila (em princípio) e sem nenhum temor usar detergente feito da gordura de animais impuros que já seja pessulá laachilat kelev:
"Não vejo proibição alguma, pois o Ro"sh (em Pessachim 21) só proíbe de comer algo proibido que seja passul laachilat kelev, pois já que está comendo, demonstra que considera aquilo um alimento – "achshevê" (como está escrito no Maguen Avraham, siman 442 seíf catan 15, do Terumat Hadêshen, siman 129). É por esse motivo que permite escrever, em Chol Hamoêd Pessach, com tinta cozida em cerveja, pois mesmo se esquecer e introduzir a pena em sua boca, não terá a intenção de ingeri-la. Assim também consta no Beurê Hagrá. E no Nodá Biyhudá, Tanina, Yorê Deá siman 57, permite por este motivo o badash [um alimento] feito de lag de sabão [que contém gordura animal]. Pois lá é uma gordura pessulá laachilat kelev que é colocada dentro da massa para fermentá-la, pois já que não come esta gordura per si, mas sim a introduz na massa para melhorá-la, não é considerado "achshevê" [não é considerado comida, mas sim, levedura]. Portanto, é mais óbvio ainda que não se considera o detergente como alimento, ao lavar a louça com ele. Muito pelo contrário: se fosse comida, não serviria para lavar a louça. Por isso, ao que me concerne, não se deve proibir de usar um detergente feito deste álcool para lavar a louça. E mesmo produzir este álcool para o detergente não se deve proibir."
O Minchat Yitschak também concorda (chelek 1 siman 52) com as palavras do Chazon Nachum, que escreveu: "Na prática, em relação a um alimento que tornou-se totalmente passul laachilat kelev: este é considerado pó e é permitido até mesmo lechatchila".
Cashrut nos remédios
O costume hoje em dia é o de fazer listas de remédios kesherim ou kesherim lepessach. De acordo com o que dissemos até agora, é preciso ponderar. A maioria dos comprimidos, hoje em dia, são feitos de forma que um animal com certeza não quererá ingeri-los. Por outro lado, o próprio doente tem a intenção de ingerir aquele comprimido, e portanto talvez seja considerado alimento. Contudo, é mais lógico dizer que o doente não considera o remédio um alimento, mas sim toma-o unicamente pelos seus efeitos terapêuticos. O Chazon Ish decidiu (Moed siman 116 letra chêt): "Comprimidos que contêm farinha... se contiverem substâncias que não são comestíveis, não têm problema de chametz. Já que não dá para separar a farinha e também não dá para levedar uma massa com eles, é permitido tomá-los em Pessach para a saúde. E mesmo que parece, de acordo com os Acharonim za"l, que comer por princípio é proibido, mesmo que seja um chametz passul laachilat kelev (como a Mishná Berurá seíf catan 7), mesmo assim, se misturado a outras coisas, é permitido. Pois aqui o doente não está considerando a farinha, mas sim, as drogas que nela estão contidas. No entanto, se estes comprimidos forem comestíveis, é proibido ingeri-los e devem ser queimados."
As palavras do Chazon Ish foram trazidas como halachá no shu"t Tsits Eliêzer (chêlek yud, siman 25 perek 20). Lá ele conclui que, apesar de tudo, o povo de Israel é um povo santo, e tentam, a princípio, achar todos os meios para que não haja nenhuma mistura de chametz. Mas tudo isso é somente uma rigorosidade a mais, mas quanto à lei propriamente dita, ele também concorda que não há nenhum problema.
É preciso observar que deve-se tomar cuidado com remédios (como xaropes infantis) que apresentem sabor agradável ao paladar. Remédios deste tipo podem ser ingeridos por animais, sendo portanto necessário examinar sua cashrut. Deve-se pesquisar como tal medicamento é produzido. Se o medicamento em si (que já não é comestível) foi preparado antes, e só depois foram acrescentados os aromatizantes, parece que é preciso examinar somente a cashrut dos aromatizantes. Mas se tudo foi preparado junto, esta substância nunca se torna pessulá laachilat kelev. Neste caso, é preciso examinar a cashrut de todos os componentes deste medicamento.
Pasta de dente
O Shu"t Har Tsevi (Yorê Deá 95) optou pela leniência, dizendo que não é preciso examinar a cashrut da pasta de dente, por dois motivos:
1. É totalmente pessulá laachilat kelev.
2. Mesmo que não esteja totalmente estragada é permitida, já que a pessoa não tem intenção de engolir.
É verdade que, hoje em dia, muitas pastas são comestíveis por causa dos aromatizantes a elas acrescentados. É preciso ponderar também se, ao engolir algo que tem sabor gostoso, não se entra na categoria de "achshevê".
Por isso, parece que há um bom motivo para requerer atestado de cashrut na pasta de dente.
Fôrmas de alumínio
No processo de fabricação de fôrmas de alumínio, há empresas que as untam com glicerina. Este produto é feito de gordura, muitas vezes animal, sendo ainda comestível. Sendo assim, haverá um verdadeiro problema em usar qualquer fôrma.
Para resolver o problema, não é preciso comprar fôrmas com supervisão. Basta lavá-las muito bem com água e sabão para tirar a gordura. Fazer hag'alá (processo em que se mergulha o utensílio em água fervente) só iria prejudicar neste caso, pois a untura é feita sem calor. Se introduzirmos a fôrma em água fervente, a hag'alá poderá justamente fazer com que a gordura penetre nas paredes da fôrma.
Sabão para o corpo
Somente em uma coisa encontramos em vários poskim (legisladores) uma opinião mais rigorosa em relação à cashrut de um produto não comestível.
Estamos falando do sabão destinado ao corpo (e de outras substâncias que se passa na pele). No Shulchan Aruch (Ôrach Chayim, 326, 9) há uma análise sobre que tipos de sabão podem ser usados no Shabat. O Remá lá menciona que sabões feitos de substâncias proibidas para o consumo são permitidos nos dias de semana. Ele aprende dos Tossafot (Nidá 32., Tossafot a partir de "Vechashêmen"): "Rabênu Tam diz... é permitido passar gordura de porco ou chêlev (gordura proibida da carne casher) no corpo."
Mas o Gaon de Vilna, em suas observações sobre o Shulchan Aruch, traz em nome do Mordechay que deve-se usar somente um sabão feito de substâncias permitidas. A fonte para as palavras do Gaon de Vilna é a Guemará (Yomá 76:), que aprende de onde é proibido passar óleos no corpo no Yom Kipur. "De onde sabemos que passar óleos no corpo é como beber em Yom Kipur? Não consta [na Torá] claramente, mas há uma dica. Pois está escrito (Tehilim 109) 'Vatavô chamáyim bekirbô vechashêmen beatsmotav'. 'E (a maldição) penetrou como água dentro dele, como óleo dentro de seus ossos."
Daqui aprendemos que passar óleo no corpo é como beber. O Gaon de Vilna aprende dali que toda substância que se passa no corpo (como o óleo) deve ser casher como se fosse para beber.
O Beur Halachá (palavra inicial "kish'ar") escreve que as pessoas em geral não costumam fazer esta chumrá (rigorosidade). Mas acrescenta que, se for fácil achar sabão casher, logicamente deve-se levar esta chumrá em conta.
Portanto, é apropriado fazer esta chumrá e usar sabão e cosméticos casher durante o ano todo, e casher lepessach, em Pessach.
Mas é preciso lembrar que isto é somente uma chumrá, para quando sabões kesherim forem facilmente encontrados; mas quem quiser ser leniente, tanto em Pessach como no resto do ano, está fazendo de acordo com a halachá (citada pelo Remá, acima).
Atestado de cashrut como símbolo de uma empresa judaica
Às vezes há realmente um motivo haláchico para se preferir um produto (não comestível) casher, mas não por motivos de cashrut. Em São Paulo, por exemplo, a empresa que produz velas casher pertence a judeus. O símbolo de cashrut, neste caso, demonstra que pertence a um judeu. Neste caso, temos que optar pelo sustento do judeu. Esta mitsvá é da Torá: "Vechê achícha imach" (Vayikrá 25;36), "Seu irmão deve viver com você". O Midrash Torat Cohanim (Vayikrá 25;14) explica que esta lei refere-se tanto à compra de imóveis como de mercadorias. O Remá (Shu"t Remá siman yud) sustenta que é uma mitsvá comprar de um judeu mesmo que seu preço seja mais alto que dos seus concorrentes. É claro que há um limite de até quanto deve-se pagar para sustentar um judeu. O Gra"sh Yisraeli (shu"t Bemar'ê Habazac, chelek guimel, pergunta 106 obs. 12) escreve que dá-se a preferência ao judeu somente até 1/6 a mais que o preço comum. Ou seja, se a diferença de preço for mais do que 17%, não é preciso dar preferência à mercadoria do judeu. Como já foi dito, não há nenhuma relação entre esta lei e cashrut.
Problemas com velas de idolatria
Há quem chame a atenção para mais uma proibição que pode haver com velas, que também não está ligada à cashrut.
O atestado de cashrut é necessário para evitar este problema. O Shulchan Aruch (Ôrach Chayim 154, 11 e Yorê Deá 139, 13) proíbe acender uma vela na sinagoga que foi feita a partir da cera de velas para idolatria. Se o próprio gentio apagou a vela, isso significa que ele próprio fez com que ela deixasse de servir para a idolatria. Neste caso, não há proibição de usá-la para outros fins, mas para uma mitsvá é preciso ser mais rigoroso, portanto é proibido. A Mishná Berurá (seíf catan 45) escreve que a mesma lei recai sobre as velas de Shabat, que são velas de mitsvá. Velas de idolatria não devem ser usadas para este fim.
Por isso, há quem tema que parte da cera (ou parafina) da vela foi aproveitada de restos de velas usadas para idolatria, sendo portanto proibido o seu uso como vela de Shabat.
Mas está claro que, se o próprio gentio derreteu a cera para fazer novas velas, fez com que elas deixassem de servir para idolatria. O próprio fato de tê-las vendido a um judeu fez com que elas deixassem de ser velas de idolatria, de acordo com o Shulchan Aruch (Yorê Deá 139, 2). Mas de acordo com o Remá, mesmo que for permitido usá-las para outros fins, não poderemos utilizá-las para Shabat ou Chanucá, por exemplo.
Mesmo esse temor é muito remoto. Primeiramente, pode ser que restos de vela nem tenham sido aproveitados. E mesmo que tenham, com certeza a quantidade fica anulada por ser minoria. (Já que é somente uma chumrá, não recai neste caso a proibição de produto de avodá zará mesmo em doses mínimas.) Mais ainda, quando uma nova vela foi feita, a forma da vela original mudou totalmente (conceito de "panim chadashot báu lechan"). Na Guemará Avodá Zará (46:) Rami Bar Chama duvida que algo que só foi proibido no caso de mitsvá permaneça proibido quando mudou de forma. A conclusão da Guemará é que, no caso de algo que não é idolatria propriamente dita, e que é proibido somente para uma mitsvá, passa a ser permitido depois de mudar de forma. Assim também foi o veredicto do Ramba"m (Issurê Mizbêach 3, 14) e do Shulchan Aruch (Ôrach Chayim 11, 8). Portanto, não é preciso temer este problema.
Problemas referentes à proibição de usufruir das velas
Mais um problema que pode ocorrer em relação às velas é se estas forem feitas a partir de substâncias que são proibidas não só para a ingestão, mas também para o usufruto (hanaá). Por exemplo: carne e leite, orlá (fruta de uma árvore que ainda não completou três anos desde o seu plantio), kil'ê hakêrem (hibridação da vinha: plantio de cereais ou verduras juntamente com uma videira), e assim por diante.
É proibido acender uma vela deste tipo para Shabat, mesmo sabendo que as mitsvot não foram dadas para se ter proveito (Beur Halachá 264, palavra inicial "Chuts Meêlu"). No entanto, estes problemas não existem nas velas de parafina atuais.
Conclusão
Portanto, todo produto que se enquadra no conceito de passul laachilat kelev (algo que nem mesmo um animal aceitaria comer) e o indivíduo não tem a intenção de considerá-lo e comê-lo – mesmo que este entrar em seu alimento, não o proíbe. Esta lei é válida até mesmo para o chametz em Pessach. Mesmo que a quantidade que caiu seja maior do que 1/60 do todo, se ainda for minoria em relação ao alimento permitido, é permitido lechatchila e lamehadrin.
É bom fazer uma chumrá (rigorosidade) em relação ao sabão para o corpo e cosméticos em geral (Gaon de Vilna).
Talvez, como uma chumrá remota, alguém que seja conhecido como temente a D'us em todos os seus atos deve fazer chumrá nos casos em que algum alimento proibido passul laaachilat kelev (excluindo o chametz) tenha se misturado ao seu alimento (Piskê Tossafot). Justamente no caso do chametz em Pessach, a halachá é mais leniente do que nas outras proibições, sendo que não encontramos nos poskim (legisladores) nenhuma opinião rigorosa.
Se o produto tiver problemas também em relação ao usufruto (e não só à ingestão), talvez continue proibido mesmo depois de tornar-se passul laachilat kelev.
Isto é possível em dois casos:
1. Quando a forma convencional de se usufruir deste produto for sem ingerí-lo (sabão, acender a vela em azeite orlá que não é mais comestível, e assim por diante).
2. No caso de carne com leite ou kilê hakerem, cujo usufruto é proibido mesmo de uma forma diferente da convencional (Ramba"m, maachalot assurot 14, 10. Vide também Nodá Biyhudá, Mahadurá Cáma, Yorê Deá 26).
A realidade atual
A realidade de hoje é que, justamente em relação ao chametz, sobre o qual não há nenhuma base halachica para se temer quando for passul laachilat kelev, existe a maior quantidade de chumrot (severidades). Há supervisores de cashrut que dizem que, em Pessach, não se considera apenas os problemas de halachá. Em Pessach a orientação é para que todos sejam mais severos em tudo, mesmo em relação a coisas que a halachá permite claramente.
Esta conduta de severidade, em coisas claramente permitidas, é muito duvidosa. Nossos sábios nos advertiram que não é em todo caso que devemos fazer chumrot. Às vezes, aquele que está livre de determinado dever, e o cumpre rigorosamente apesar de tudo, é chamado de tolo (hedyot). (Yerushalmi Berachot 2, 5).
O Minchat Yitschak (chelek 5 siman 67), por exemplo, discordou daqueles que faziam chumrá em relação a cigarros em cujo tabaco havia gordura animal trefá misturada. Ele traz a opinião do Chacham Tsevi que "riu daqueles que proíbem" e determinou que não se deve fazer chumrá neste caso.
Mesmo nos casos em que a chumrá é favorável, o Minchat Yitschak (chelek 6 siman 7) escreve que há duas diferenças entre uma chumrá boa e uma ruim. A boa chumrá é aquela que: 1) é feita de maneira discreta e 2) somente no caso de uma pessoa famosa por sua devoção em todos os assuntos, e não para o público em geral.
Seria correto que todos os hechsherim (atestados de cashrut) baseados nestas chumrot deixassem claro para o público que trata-se somente de uma chumrá. Talvez até seria correto não publicar estas informações para o público em geral, mas sim divulgá-las somente entre aqueles que fazem chumrot e são conhecidos como pessoas minuciosas em todos os seus atos. Às vezes, a forma como se publica estas listas de cashrut faz com que um judeu que não seja estudioso da Torá tenha uma impressão distorcida. Muitos entendem que, ao comprar velas, devem ter o mesmo cuidado que têm em relação à carne que compram. Não é justo dar àquele que cuida da cashrut a impressão que seu dever halachico é o de sair andando justamente à procura da água sanitária casher. Há pessoas que cuidam de cashrut que não são minuciosas o bastante até mesmo em proibições da Torá, e portanto não há nenhuma razão em orientá-los justamente a fazer grandes e remotas chumrot nestes assuntos. Como princípio, estas chumrot devem ser destinadas a pessoas tementes a D'us que são minuciosas também em todas as outras mitsvot, e não para o público em geral.
Vale também informar o público que, aqueles que não acendem as velas sobre a mesa ou não as prendem em cima de pratos, não há nem mesmo uma sombra de chumrá que deva ser feita em relação a elas.
Devemos pensar na imagem que o judaísmo observante adquire, por meio destes hechsherim, aos olhos das pessoas afastadas do cumprimento das mitsvot, que acabam desprezando a imagem do caminho da Halachá.
É preciso analisar, também, qual é o preço desta severidade. O Beur Halachá escreve que é preciso fazer chumrá no caso de sabão somente se este for achado facilmente. Em relação a todas estas chumrot: se o produto com atestado de casher for encontrado com a mesma facilidade e pelo mesmo preço que os outros produtos análogos, pode-se compreender. Mas no caso em que estas chumrot custam caro, será que não é melhor dar este dinheiro para uma mitsvá como tsedaká (caridade), que é uma mitsvá da Torá, em vez de gastá-lo em algo cuja necessidade de fazer chumrá não está clara ou obrigatória?
CONCLUSÕES:
1. Algo que a Torá proibiu de comer mas deixou de ser comestível mesmo para um animal (passul laachilat kelev), seu usufruto (hanaá) é permitido em Pessach (assim como é permitido mantê-lo em casa), sendo que a proibição de "Bal yeraê uval yimatsê" (algo que não pode ser visto ou encontrado durante Pessach) não recai sobre ele.
2. É proibido ingerir este produto, se tiver a intenção específica de comê-lo e de considerá-lo um alimento.
3. De acordo com a lei, todo produto que for passul laachilat kelev, e o indivíduo não pretende e não tem a intenção de comê-lo, não tem nenhuma proibição, mesmo se entrar em sua boca. Mesmo se umas gotas da vela ou um farelo de sabão em pó entrar em sua comida, esta continua casher lamehadrin. Não há nenhuma necessidade em adquirir detergente casher, papel para assar casher, e assim por diante. Esta lei é correta para todos os dias do ano, e mais ainda para Pessach.
4. É bom fazer chumrá e adquirir sabonete casher, se este for achado com facilidade, assim como desodorantes, perfumes, cremes e cosméticos em geral.
5. Talvez exista uma base remota para fazer chumrá rabínica em todas as proibições (com exceção do chametz) que possam entrar na boca, mesmo que estas se enquadrem no conceito de "passul laachilat kelev". Esta chumrá deve ser seguida somente por pessoas que cumprem todas as mitsvot minuciosamente, sendo conhecidas pelo público como tementes a D'us.
6. Quanto ao chametz em Pessach, de acordo com a halachá simples, não há nenhuma fonte que sustente a chumrá em relação à mistura que seja "pessulá laachilat kelev". Entretanto, há os que dizem que em Pessach é bom fazer chumrá mesmo em relação a algo que é considerado por todas a opiniões, assim como o próprio pó da terra, e conseqüentemente, permitido.
7. Quanto aos que que fazem chumrot, deve ficar claro para o público em geral que isto se trata de uma chumrá e devoção, sendo que não é indicado para qualquer um.
Um cuidado maior seria interessante quando da divulgação de atestados de cashrut para o público em geral, a não ser àqueles que vierem solicitá-los em especial.
8. Quando o produto casher (passul laachilat kelev) é produzido por um judeu, deve-se dar-lhe a preferência, não pela cashrut, mas sim pela lei de "Vechê achicha imach". Tudo isso sob condição de que o produto não ultrapasse mais do que 17% do preço convencional.
9. Do ponto de vista halachico puro, é permitido tomar (em Pessach e no resto do ano) remédios que se enquadrem em "passul laachilat kelev", mesmo se forem feitos de produtos não casher. O povo santo de Israel costuma procurar remédios kesherim, mas somente como uma chumrá. Aquele que se encontra viajando ou que não tem como checar a cashrut, não tem o dever de fazer esta chumrá. Esta regra não inclui os remédios que têm sabor agradável, como xaropes infantis.
10. Tudo o que foi dito acima refere-se às proibições da Torá em relação à ingestão. No caso de produtos suspeitos de conter substâncias proibidas também para o usufruto, às vezes tornam proibidos mesmo produtos que sejam "pessulim laachilat kelev".
11. Produtos que não são comestíveis por si só, mas que receberam sabor artificial (xaropes infantis, pasta de dente etc.) – deve-se comprar somente com atestado de cashrut.
12. Fôrmas de alumínio podem ser compradas sem supervisão rabínica. No entanto, deve-se lavá-las muito bem com água e sabão antes de usar.
ADVERTÊNCIA: ESTE ARTIGO REFERE-SE SOMENTE A PRODUTOS NÃO COMESTÍVEIS.
A CASHRUT DE PRODUTOS COMESTÍVEIS DEVE SER RIGOROSAMENTE EXAMINADA. MESMO QUE O PRODUTO NÃO APARENTE TER PROBLEMAS, COMO CHOCOLATE OU ÓLEO VEGETAL, É PRECISO INSPECIONÁ-LO. AS EMBALAGENS NEM SEMPRE MENCIONAM TODOS OS PRODUTOS CONTIDOS, OU ESTES SÃO FEITOS EM UTENSÍLIOS PROIBIDOS. DEVE-SE SEMPRE CONSULTAR UM RABINO QUE CONHEÇA OS PROBLEMAS DE CASHRUT NO LOCAL E SAIBA O QUE PODE SER COMPRADO SEM ATESTADO DE CASHRUT E O QUE NÃO PODE.
Autor: Rabino Moshe Bergman
Fonte:
Bnei Akiva – São Paulo