Em nossa pequena comunidade, há um negócio estabelecido que atende aos moradores há anos. Recentemente, abriu um concorrente que está buscando convencer os clientes a usarem os seus serviços em vez do tradicional. Isso é ético?
A lei judaica tem uma grande tradição a respeito de competição ética por clientes. Vamos examinar algumas das principais conclusões da nossa tradição:
1. Sendo os produtos iguais, devemos nos esforçar por evitar uma competição que possa prejudicar significativamente o sustento do outro. Em geral, uma pessoa reflete bastante e com muito cuidado antes de entrar para um tipo de negócio que promete lucros; por quê não dedicar umas poucas horas extras de reflexão para ver se você pode encontrar um negócio que não irá tomar o sustento de outro?
Se todos pensassem assim, teríamos idéias mais criativas para novos produtos e serviços, e menos deslocamento econômico. Todavia, mais importante do que o impacto econômico é o elemento humano: demonstrar consideração por nossos vizinhos.
Sendo realistas, nem sempre é possível ganhar a vida sem apertar o calo de outros. Por isso, a lei judaica não proíbe a competição com um negócio já existente, mesmo que o concorrente possa fazer estragos na clientela estabelecida do outro negócio. Entretanto, há alguns princípios para a concorrência ética.
2. A lei judaica sanciona uma competição construtiva, e não destrutiva. Por isso, é anti-ético empregar meios cuja intenção seja prejudicar o concorrente, em vez de atrair um negócio legítimo. Isso inclui o uso de preços predatórios ou agir para bloquear o acesso dos clientes à empresa concorrente.
3. É impróprio usar os esforços do concorrente em seu prejuízo. Por exemplo, é proibido entrar na loja do concorrente para buscar clientes! Uma variante moderna seria utilizar a própria lista de clientes do concorrente como base para tirar pedidos. Outro exemplo dado pela lei judaica é utilizar os esforços criativos de alguém em seu prejuízo, como por exemplo ao roubar um processo inventivo e copiá-lo. Atualmente, estes assuntos são regulamentados por lei de propriedade intelectual, que inclui patentes, marcas e direitos autorais. Estes devem ser respeitados.
4. A competição deve existir para um novo negócio. Em geral, é antiético tentar convencer clientes de outros a cancelarem contratos já existentes. Se os clientes vêm até você e decidem, por sua própria iniciativa, que querem encerrar seus acordos atuais (de uma maneira permitida) isso não é problema seu, mas não é bonito estimular as pessoas a quebrarem seus acordos. Também é adequado considerar o âmbito do impacto. Se uma nova empresa for capaz de ter uma atividade respeitável e a empresa já existente continuar a existir,o problema é relativamente pequeno. No entanto, o senso comum e as percepções éticas concordam que é melhor não competir se o resultado final for uma competição predatória, que traga lucros pífios para ambos, tanto a nova empresa quanto a antiga.
Vamos aplicar estas reflexões à sua pergunta. Antes de mais nada, esperamos que o novo concorrente tenha considerado outras possibilidades antes de se decidir por passar a tentar atrair clientes que, atualmente, estão felizes com a empresa existente. A próxima coisa a se considerar é que as persuasões oferecidas aos clientes devem envolver benefícios substantivos e sustentáveis, se comparados ao serviço atual. Também é inteiramente antiético obter nomes de potenciais clientes das listas confidenciais do fornecedor atual. Finalmente, sob solicitação direta, a nova empresa deve se oferecer para cuidar dos novos negócios dos clientes, e não encorajá-los a cancelar seus acordos anteriores com a empresa atual.
A lei judaica reconhece que a competição por clientes é um incentivo valioso para as empresas proporcionarem um serviço melhor a preços mais baixos. No entanto, como qualquer fenômeno benéfico, o benefício máximo da concorrência é quando este é realizado dentro do limites éticos e racionais.
FONTE
Pitchê Choshen Guenevá Capítulo 9, baseado principalmente no Shulchan Aruch Choshen Mishpat 156 e 386.
O Judeu Ético Edição N.126 – 17 de setembro de 2003
Rabino Dr. Asher Meir
The Jewish Ethicist, um programa do Business Ethics Center of Jerusalem.
Tradução: Uri Lam (M.A. em Filosofia) – 17 de setembro de 2003. |