webJudaica.Com.Br
Seu portal Judaico na Internet
29/nov/2023
Kislev 16, 5784

Religião Judaica

Calendario Judaico

O Mês de Tevet



As mudanças que aconteceram no mês hebraico de Tevet trouxeram sombra ao longo da História Judaica.

No dia 8 de Tevet, a tradução da Torá para o grego, ordenada por Ptolomeu, foi completada. O monarca egípcio estava totalmente ciente de quão complicado seria este trabalho. Ptolomeu reuniu 70 acadêmicos para realizar a tradução utilizando apenas o texto escrito como base. Ele esperava não apenas que isto daria aos gregos a compreensão literal dos Cinco Livros de Moisés, mas também desmentir que D'us tinha de fato se comunicado com os judeus no Monte Sinai.

A tradução resultante foi considerada uma tragédia. Por que? Isto é inerente a todas as traduções? Por que a verdade da Torá deveria ser inacessível? Nos tempos modernos a pletora de traduções é estupenda. A total ignorância de tradição judaica e liturgia com que fui criada foi praticamente eliminada com traduções de livros de reza e dos chumashim (cinco livros de Moisés).

Qual a diferença entre a Septuaginta (a tradução dos 70 homens) e as traduções atuais?

Ptolomeu queria helenizar a Torá. Ele a queria em sua biblioteca junto com outros clássicos de seu tempo. Para ele, era inconcebível que um documento dado por D'us e outro escrito por homens fosse tratado diferentemente.

O objetivo da Torá é nos apresentar um modo de vida, que nos modificará e nos levará para o desconhecido - o infinito Divino. O propósito de outras obras é nos dar maior conhecimento sobre nós mesmos e o mundo. Um lida com os seres humanos e seu mundo, enquanto o outro lida com um mundo bem além das limitações da observação humana. Os autores das traduções de hoje em dia querem deixar com que todos passem pela experiência da Torá tornando-a maior. Ptolomeu queria dar a todos o acesso à Torá reduzindo seu escopo para as limitações da mente humana.

Era uma tragédia. de fato, nossos sábios comparara isto com o pecado do bezerro de outro. Os Judeus, que foram ao encontro do infinito e desconhecido D'us, fizeram seu próprio deus enquanto Moisés não estava mais com eles. Era um deus que se enquadrava em seu repertório já existente de simbolismo religioso. Eles fizeram de D'us pequeno logo quando tinham a oportunidade de seguir a diante no desconhecido, com a fé pura e transformar a si mesmos num povo melhor do que jamais poderiam ter sido.

O dia 9 de Tevet marca o dia da morte de Ezra e de Nehemia, os líderes espirituais que trouxeram os Judeus de volta do exílio babilônico para começar o processo de rejuvenescimento do povo Judeu. O exílio babilônico foi a expulsão forçada dos judeus de sua pátria, em que habitavam havia 85 anos, para a Babilônia. Eles ficaram lá por 7 anos. Durante este período, os persas conquistaram os babilônios, e os gregos, por sua vez, conquistaram os persas.

Pareceria para um observador de fora que o trauma da expulsão mais as forças sutis de assimilação para a cultura do conquistador advindos de sua vitória levariam o Povo Judeu a ser uma nação anônima. Ezra e Nehemia reverteram este processo, e virtualmente insuflaram nova vida em nosso senso de nacionalidade. Foram mais bem sucedidos do que qualquer expectativa. Com a ajuda política de Ciro, da Pérsia, o sonho do retorno se tornou uma realidade.

Diferentemente do retorno atual a Israel, este retorno não era marcado pela ambiguidade espiritual. Ezra conseguiu aquilo que nenhum líder (incluindo Moisés) conseguiu em toda nossa história. Ele inspirou o povo não apenas a voltar a seu lar, mas também a retornar a D'us. Era de fato uma nova era. Mas com sua morte, esta era chegou ao fim e o próximo passo adiante foi bem mais hesitante do que durante suas vidas. Todo o período do Segundo Templo foi marcado pela lenta erosão de nossa identidade. Houve momentos dourados e personalidades inesquecíveis, no entanto, algo estava faltando: a clareza absoluta do propósito pelo qual Ezra nos havia trazido.

O cliché é que ninguém é insubstituível. É mentira. Na verdade, o oposto é que é verdadeiro: ninguém é substituível. Nada troxe mais declínio do que o declínio que se seguiu, tão rapidamente, à morte dos líderes.

No décimo dia de Tevet, tivemos a dúbia distinção de um "novo começo", que ainda teu um forte impacto sobre nossa identidade nacional. É o dia em que as forças que levaram ao exílio começaram a se concretizar, levando a diáspora após diáspora. Muitos judeus definem sua relação com seu Judaísmo através do continuum de tragédias que culminaram com o Holocausto. Visitamos os campos de concentração e fechamos nossos olhos depois de ler ou assistir algo sobre este incompreensível horror. Alguns de nós viram os restos de suas origens na Europa.


A saga da perseguição começou no dia 9 de Tevet. O que exatamente aconteceu? Jerusalem foi cercada pelas forças babilônicas (que discutimos anteriormente na referência sobre dia 9 de Tevet) e começou um cerco de três dias que terminou com a destruição do Templo e o exílio que nunca terminou totalmente. Mesmo na época de Ezra, que foi o mais próximo que chegamos da redenção nacional, a maioria dos judeus não chegou a voltar para sua pátria. A vida na Babilônia, Pérsia, Grécia, etc. era confortável, aceitável, e, pior, normal.

Os sábios instituiram um jejum no dia 10 de Tevet. O jejum é para ser um momento de questionar se devemos passar pela História como viajantes passivos, olhando pela janela enquanto somos levados para o desconhecido, ou se devemos fazer algo que determine o caminho pelo qual seguimos. Hoje, mais do que nunca, todas as portas estão abertas. Podemos escolher o caminho de deixar os outros definirem o que somos e aceitarmos. Para muitos, liberalismo e Judaísmo se tornaram sinônimos. O motivo para esta mudança no curso dos eventos é que algumas partes da Torá se encaixam no padrão neo-greco do pensamento ocidental masi que outras. O Judaísmo foi "traduzido" muitas e muitas vezes desde a Septuaginta, para significar o que quer que seja mais aceitável para os sucessores de Ptolomeu.

Outro caminho que podemos escolher é o da decadência moral que estreita a linha divisória entre nós e aqueles que querem nos destruir. Este caminho levou para a destruição dos dois Templos, a expulsão de nossa terra e o ódio irracional que sofremos quando as nações se viraram contra nós quando ficamos muito parecido com o que elas eram.

Há uma terceira possibilidade. Podemos escolher renovar nosso compromisso com nossa própria herança e seguir o caminho definido por Ezra e Nechemia.

Tevet é um período de retorno e redefinição. Que possamos usar o poder deste mês para descobrir quem realmente somos e quem realmente queremos ser. Isto é primordial para a redenção pessoal, que por sua vez é fundamental para a redenção nacional.


Autor: Rebbetzin Tzipporah Heller
Fonte: Aish HaTorah