As histórias associadas aos feriados judaicos são bem conhecidas. São temas de livros e filmes. Entretanto, elas não são apenas contos de ninar para crianças. Elas têm lições para todos que as leêm e as discutem. O propósito desta seção é mencionar as mais famosas e algumas não tão famosas, na esperança de que você encontre um novo significado nas histórias que todos tomamos por conhecidas
O Sacrifício de Itzchak
Em Rosh Hashaná, nós lemos a porção da Torá que conta a história do nascimento de Itzchak, e a história da Akedá, o sacrifício de Itzchak, o único filho de Avraham. Como você se lembra, Avraham e Sara não tiveram filhos na maior parte do tempo em que foram casados. Finalmente, em sua velhice, Sara concebeu e Itzchak nasceu. O nome, Itzchak, vem da palavra hebraica
litzchok, rir. Sara ficou tão chocada de saber que estava grávida, que chegou a gargalhar ao pensar que aos 90 anos poderia ainda dar a luz.
Itzchak cresceu como um filho querido de seus pais, e foi um grande choque para Avraham quando um dia, D'us instruiu-lhe que levasse seu único filho, seu amado Itzchak, para o topo de uma montanha, para ser sacrificado num altar.
Agora, não fica claro com uma leitura superficial, definir quem é o herói e quem é o vilão deste relato. Explicar esta história a seus filhos pode ser desafiador e possivelmente trará à tona perguntas muito interessantes que podem levar ao debate e à conversa. Tente pedir-lhes que pensem sobre quem seria o herói ou o vilão.
Claramente, D'us pode ser o vilão neste trecho, por mandar Abraão matar seu único filho. Ou, talvez é Avraham, por parecer disposto a tomar seu filho e a sacrificá-lo para D'us.
Yitzchak parece óbvio em seu papel de herói, pois, sabendo ou não, vai com Avraham e está disposto ceder sua vida. Ou talvez Avraham seja o herói por mostrar sua fé e obediência em D'us de uma maneira tão incontestável. E, finalmente, pergunte a suas crianças se eles pensam que o maior herói pode ser D'us, pois Ele é o que impede Avraham, que está prestes a matar Yitzchak, e lhe conta que era apenas um teste, e pede que, em vez do próprio filho, sacrifique um bode que vagava nas moitas.
A história não pode ser lida superficialmente. Há vários níveis mais profundos para explorar. Há um famoso midrash que diz que, no tempo da Criação, D'us separou três coisas para usar posteriormente: o chifre do carneiro, a moita ardente e pomba que sinalizou o fim do mabul, o dilúvio que destruiu a geração de Noé. Chazal, nossos sábios, dizem que D'us sempre prepara a refuá (a cura), antes da macá (o sofrimento).
Também pode ser discutido que D'us jamais teve a intenção de permitir que Yitzchak fosse sacrificado. Certamente, em nenhum lugar da tradição judaica o sacrifício humano é citado ou praticado. Também pode ser questionada a justiça de tal teste colocado perante um pai, mas Avraham não era uma pessoa qualquer.
Avraham era o primeiro judeu. Por si só havia percebido que os ídolos que seu pai, Terach, sua família e amigos veneravam eram estátuas de barro. Ele acreditava em um D'us, e este D'us era real para Avraham como sua mulher e seus filhos. Quando D'us pede a Avraham que pegue sua mulher, seus serventes e seu rebalho para ir a um novo país chamado Canaan, Avraham obedece sem questionar. Durante a vida de Avraham, D'us falava com ele, e ele respondia.
Hoje, confiamos na fé e na oração para falar com D'us. Temos esperança de que, através de nossa observância das mitzvot, e através de nossas orações diárias, D'us nos escutará e responderá.
Talvez seja por isso que o chifre do carneiro tenha permanecido um símbolo através das gerações. Em Rosh HaShaná, quando ouvimos o toque do Shofar, lembramos como D'us foi misericordioso com Avraham ao poupar Yitzchak. Em Rosh HaShaná, rezamos para que, assim como fez por Avraham, D'us poupe nossas vidas e as daqueles que nós amamos.
O Nascimento de Samuel
Uma história menos conhecida que lemos em cada Rosh Hashaná, conta o nascimento do Profeta Samuel. Este relato tem muitos paralelos ao relato de Avraham, Sara e Yitzchak. Veja se depois de estudar ambos, você e suas crianças podem encontrá-los.
Como Yitzchak, Samuel nascia a um casal sem filhos, Hanna e Elchanon de Elkanah. Como Avraham, Elchanon teve duas esposas, um que teve filhos e uma que não teve. Como Sara, Hanna era a esposa querida, mas também a mais triste, pois era muito desapontada por ser estéril. A outra esposa de Avraham, Hagar, e a outra esposa de Elchanon, Pnina, de acordo com o midrash, zombaram da esposa sem filhos.
Hanna decidiu procurar ajuda. Foi a Elimelech, o Cohen Gadol, ou sumo-sacerdote. Fez um shvuá, um juramento, de que se D'us lhe concedesse um filho, ela o entregaria para o serviço de D'us. Hanna começou orar. O texto diz só que os seus lábios se moviam e nenhum som foi ouvido. Quando o Sumo Sacerdote a viu, pensou que ela estava bêbada. Hanna contou-lhe que não estava bêbada, apenas orava.
É importante notar, que o método de Hanna de orar é usado pelos judeus até hoje. Antes de Hanna, as pessoas oravam silenciosamente. Hoje, os judeus oram silenciosamente quase sussurrando as palavras da oração.
Com o tempo, Hanna deu à luz, e ela chamou seu filho de Samuel, Shmuel, pois D'us tinha ouvido suas orações. Hanna também manteve sua promessa, e quando seu filho ficou suficientemente adulto, trouxe-o a Elimelech de modo que pudesse viver com ele e aprender o serviço de D'us.
Por conta própria, Hanna sacrificou seu filho a D'us. Não da forma física com que Abraão quase fez, mas de certa maneira quase definitiva. Numa certa ironia, ela abandonou seu único filho como agradecimento por ter concebido seu único filho.
Samuel cresceu para ser um de nossos maiores profetas e conselheiros de nossos reis. Foi o último juiz designado sobre o povo judeu antes que David fosse ungido rei da Judéia.
De Hanna, não de Sara, aprendemos o poder da oração. Sara nunca pensou que conceberia. Riu em voz alta do mero pensamento. De Abraão, aprendemos o sacrifício do pai e a redenção final. De Hanna, aprendemos o sacrifício da mãe, mas em seu caso, não havia nenhuma voz do céu ordenando-a que mantivesse seu filho e sacrificasse um animal como agradecimento em vez disso.
O que pode aprendemos destes dois relatos diferentes, mas semelhantes. D'us não quer que morramos por nossa fé, ou que sacrificaquemos nossa vida aqui na Terra. Esta não foi a razão pela qual fomos criados. D'us nos deu a oração, não porque Ele a necessita, mas para que possamos usá-la para elevar nossa vida a um nível mais alto.
Autor: Amy J. Kramer
Fonte:
EverythingJewish.com