Há mais de 2000 anos, a antiga Israel fazia parte do Império Sírio, sendo governada pela dinastia dos Selêucidas. Não levando em consideração a tradicional liberdade religiosa delegada por seus precursores, os Ptolomeus, estes se recusaram a deixar os judeus em paz espiritual. Em 25 de Kislev do ano 168 a.e.c., o então governante, Antiochus IV, decretou que fosse erigida uma estátua de Júpiter no Templo de Jerusalém. Era também conhecido por "Epifanes", que significa "o amado dos deuses". Já Polebius, um historiador da época, aplicou-lhe o apelido de "Epimanes" - louco - um título mais apropriado ao caráter do monarca. Esta foi apenas uma de suas maquinações - o Shabat e as Festas estavam proibidos sob pena de morte; os judeus eram obrigados a oferecer sacrifícios aos deuses pagãos; rolos da Torá eram destruídos e seus detentores assassinados - para "elevar tudo o que era helenista e rechaçar tudo o que era judaico", conquistando, sobretudo, as classes superiores, que não hesitaram em adotar esta nova filosofia.
Contudo, seus nefastos desígnios esbarraram em um vilarejo, Modiin, onde Matitiahu, o Hasmoneu - um velho sacerdote - juntamente com seus cinco filhos, reuniu um grupo de homens - pequeno em número mas infinitamente maior em valentia e coragem - e iniciou uma revolta. Com a sua morte, em 167 a.e.c., seu filho Yehudá tornou-se o líder dos revoltosos, sendo conhecidos como os Macabeus (de macabi que, em hebraico, compõem o notarikon - método de abreviar frases utilizando as letras iniciais de cada palavra - de "Mi Camochá Ba'elim Ado-nai", "Quem entre os poderosos é como Tu, ó D'us - Êxodo 15:11). Explicam ainda nossos sábios que este nome deriva da palavra makevet, que significa martelo, devido à sua excepcional força física. Frente a essa rebelião, Antiochus enviou seu general Apolônio para dissipá-la. Mesmo sendo militarmente superiores e em número, os sírios acabaram sendo derrotados pelos Macabeus.
Chanucá é a consagração - purificação e reinauguração - do Templo, primeira medida tomada pelos vitoriosos. Como a Menorá (candelabro) de ouro havia sido roubada pelos sírios, os Macabeus fizeram uma nova de metal menos nobre. Porém, no dia 25 de Kislev de 165 a.E.C., algo aconteceu. Deixemos que o Talmud (Shabat 21b) nos conte:
"Quando os gregos entraram no Templo, profanaram todas as reservas de óleo dali; e os Hasmoneus - após a vitória sobre os helenistas - encontraram um único cântaro pequeno de óleo puro inviolado, ainda com o selo do Sumo Sacerdote. Normalmente esta quantidade seria suficiente para iluminar a Menorá por apenas um dia; mas um milagre aconteceu e o óleo durou oito dias. No ano seguinte, estes oito dias passaram a ser comemorados com louvor e graças".
Embora seja esta a explicação mais conhecida para a Festa, sua existência remonta a tempos bíblicos: no dia 25 de Kislev, um ano após o Êxodo do Egito, foram concluídas as obras do Mishcán - Tabernáculo - nosso primeiro Santuário.
Costumes de Chanucá
1)Revivendo este marcante momento de nossa História, celebramos Chanucá acendendo, durante os oito dias da Festa (a partir do próximo domingo à noite), um candelabro especial de oito braços - a Chanukiá - todos no mesmo nível, além de um braço elevado adicional (o Shamash), o qual serve de suporte à vela responsável pelo acendimento das demais. O sentido desta Mitzvá é, segundo nossos sábios talmúdicos, "Pirssuma Denissa" - a difusão do milagre ocorrido. Justamente por este motivo, costumamos colocar a Chanukiá num lugar onde as pessoas possam ver do lado de fora da casa, preferencialmente no peitoril da janela. As velas são acesas ao cair da noite, exceto sexta-feira, quando as acendemos antes das velas do Shabat (uma vez que, acesas as velas do Shabat, é proibido acender qualquer outra vela). Embora a grande maioria utilize-se de velas, há um antigo costume de se usar pavios e azeite, em recordação ao milagre no Templo.
2)Embora jogos de azar sejam proibidos pela Lei Judaica, costuma-se, em Chanucá, jogar o dreidl (sevivon, em hebraico), um pião de quatro faces, cada uma contendo uma letra do alfabeto hebraico, as quais formam a frase Nes Gadol Haia Sham - uma grande milagre aconteceu lá - sendo que, em Israel, troca-se a última letra por pei (de pó, aqui). Naquela época, o estudo da Torá era proibido sob pena de morte. Para poderem "camuflar" suas reuniões de estudo, os judeus levavam consigo piões. E, assim que chegava um oficial sírio, fingiam estarem se divertindo e se punham a girá-los.
3)Costumamos comer sufganiot (sonhos) e latkes de batatas. Uma vez que estas delícias são feitas à base de óleo, recordam-nos a respeito do grande milagre destes dias.
4)Em lembrança às moedas cunhadas pelo Macabeus após sua vitória, costumamos dar às crianças Chanucá guelt (dmei Chanucá, em hebraico), uma quantia para ela fazer o que bem quiser.
Uma mensagem da Chanukiá
A Chanukiá simboliza a humanidade. Cada vela representa o ser humano, uma vez que "a alma do homem é a vela de D'us" (Provérbios 20:27). O Shamash - a vela com a qual acendemos as demais - representa nosso desafio perante o mundo em que vivemos.
Em nosso cotidiano, freqüentemente nos deparamos com pessoas cujos "pavios" estão apagados. São aquelas que, por qualquer motivo, estão tristes, sozinhas, desamparadas ou abandonadas. A escuridão de suas vidas torna-se cada vez mais densa à medida que seus objetivos parecem-lhe mais e mais distantes ou até mesmo impossíveis. Pessoas estas que não precisam de muito; apenas de nossa atenção, carinho, amor e dedicação. Mesmo em meio à multidão, não conseguem ver sua chama brilhar; não são vistas.
Nossa missão é doar nosso brilho e fazer com que elas tenham calor humano correndo em suas veias. Compete-nos fazer com que se sintam amadas, respeitadas, valorizadas e especiais. Mas é importante notar que todas estão no mesmo nível. E, mais fundamental ainda: a Mitzvá só é cumprida em sua plenitude quando todas as velas são acesas em conjunto. Somente unidos - juntos e presos pelos mais resistentes elos da dedicação ao outro - poderemos garantir que Chanucá continue sendo motivo de orgulho por gerações.
Autor: Prof Sami Goldstein, da Sinagoga Francisco Frischmann, de Curitiba
Fonte:
Prof Sami Goldstein, da Sinagoga Francisco Frischmann, de Curitiba