Bein HaMetsarim é o período de semi luto entre o dia 17 de Tamuz (onde as muralhas de Jerusalém foram destruídas) e Tishá BeAv (quando o Templo foi destruído, no mesmo ano).

Em tradução literal, Bein HaMetsarim significa “entre lugares estreitos. Para vivenciarmos a data em comunidade, os rabinos da CIP estarão conduzindo duas conversas sobre “lugares estreitos” da nossa sociedade contemporânea — e como sair deles.

O primeiro encontro foi no último domingo (04), e os rabinos Rogério Cukierman e Michel Schlesinger receberam Emerson Ferreira para conhecer e refletir sobre sua história. Emerson é ex-presidiário e se tornou psicólogo, mediador de conflitos, membro do Conselho Penitenciário de SP e diretor do projeto Reflexões da Liberdade.

“Quando eu trabalhava de garçom eu via os clientes e me perguntava ‘por que essas pessoas podem gastar 500 reais em uma hora, e eu preciso trabalhar o mês inteiro para ganhar isso?’. Eu não sabia que isso se chamava desigualdade social

Emerson relatou que, desde os 14 anos, quando entrou no seu emprego de garçom, sentia que não conseguiria ascender socialmente. Mais tarde, quando começou a frequentar festas aos fins de semana, percebeu que a maior parte das pessoas que tinham melhores condições de vida estavam envolvidas no crime.

“Com 16 anos eu peguei uma parte do meu pagamento e comprei 50g de cocaína para vender. Eu via que nessas festas havia uma oportunidade para ganhar dinheiro. Em um sábado e um domingo eu ganhei mais dinheiro do que em um mês inteiro trabalhando”, Emerson conta.

“O crime era um mundo onde eu pude colocar para fora toda a insatisfação que eu tinha por já me sentir vivendo em uma prisão”

Após 3 anos se envolvendo cada vez mais profundamente com o crime, Emerson foi preso por tráfico de drogas. Ainda com 19 anos, ele precisou de mais de um ano dentro da prisão para tomar a decisão de encerrar seu envolvimento com o tráfico.

Quando Emerson descobriu a biblioteca da prisão, iniciou seus estudos por meio de leituras em diversas áreas — como Psicologia e Filosofia. Após fazer a leitura de mais de 150 livros enquanto cumpria sua pena, Emerson conta que começou a enxergar sua situação com mais clareza.

“Eu percebi que eu só não fui uma pessoa melhor no início da minha juventude porque existia um contexto em que eu fiquei exposto à criminalidade, à violência”

“Dizem que o objetivo da prisão é a ressocialização e a reinserção. Como você vai reinserir alguém que não foi inserido? Ressocializar alguém que não foi socializado?”

Para Emerson, a maneira como o sistema prisional funciona atualmente no Brasil não traz resultados positivos para a sociedade. “Uma vez que as pessoas estão em cumprimento de pena em um lugar que as violenta mais do que a violência que elas já estavam expostas, elas se revoltam ainda mais”, ele afirma.

“Quem está preso hoje no Brasil são pessoas negras, pobres, sem instrução, sem orientação. Pessoas que saíram da margem da sociedade. Cada pessoa preta lá dentro representa uma parte de um lugar da sociedade — uma comunidade, uma rua, uma família, uma história. Nós não merecemos replicar de geração em geração a história de prisão”

Atualmente, Emerson Ferreira dirige o “Reflexões da Liberdade”. A iniciativa tem como objetivo fazer com que a sociedade repense os processos que enchem as prisões. Intervindo diretamente no corpo social, por meio de dinâmicas de grupo e palestras, o projeto desenvolve uma nova forma de pensar em escolas, empresas e prisões.

No próximo domingo, dia 11 de julho, às 17h, os rabinos da CIP irão dar continuidade às discussões sobre liberdade com Darcy Costa.